sexta-feira, 11 de março de 2011

A borracharia abandonada

Esse era daqueles dias em que parece que tudo vai dar errado. Saí de casa 5 minutos atrasada pra escola, por sorte ainda consegui pegar o ônibus na Rua de baixo. Por azar esqueci o livro de biologia. E por azar também não tenho uma bola de cristal pra prever que o tempo viraria e o maior temporal destruiria a cidade inteira. Celulares sem sinal, minha mãe já devia estar surtando em casa por eu estar na rua. Eu tinha de enfrentar a chuva e chegar o mais breve possível em casa.

As ruas alagadas impediam o trânsito de carros, caminhões, ônibus e todo e qualquer veículo. Sem ônibus, tive de ir a pé. Não era longe. Na primeira esquina minha roupa já pesava o dobro do peso inicial, culpa da chuva que a encharcou. Mas não havia nada que eu pudesse fazer, afinal eu não estava com o guarda-chuva, e ainda que estivesse, certamente ele já teria sido revirado com o vento. Segui caminhando rápido em direção a minha casa. Porém, a quatro quadras do meu destino final o vento, a chuva e os raios ficaram muito mais fortes. Pensei que minha mãe iria preferir uma filha que chegasse um pouco depois em casa do que uma filha morta. Entrei em uma borracharia abandonada.

O lugar era bem macabro, não havia mais porta em nenhum dos lados. Subi umas imundas escadas e fui tentar me secar um pouco no que um dia foi um projeto de quarto/cozinha. Restava uma pia e um colchão rasgado. Eu julgava estar sozinha, afinal, quem mais estaria naquele lugar bizarro? Tirei a camiseta do colégio e a torci na pia, nisso sinto uma respiração forte e molhada logo atrás de mim, acompanhada de uma voz que dizia: “Quando imaginei encontrar alguém aqui...”. Me virei assustada indagando quem ele era, mas ao vê-lo, perdi as palavras. Era sem dúvidas o homem mais lindo que eu já havia visto. Seu corpo era perfeito, molhado. Seu olhar me hipnotizava de uma maneira inexplicável. Seu sorriso iluminava e me encantava. Ele já me possuída como ninguém jamais tinha conseguido me deixar sem chão. Ele percebeu o seu poder sobre mim. Se aproximou, me puxou pela cintura e me beijou. Quem disse que o melhor beijo é o de amor? Não sabia nada dele, mas o beijo dele era o melhor da minha vida, era um beijo com desejo, com pegada, com fogo. Eu não podia resistir, eu não queria resistir. Ele me colocou no colchão rasgado nem tão forte que eu pudesse me machucar, nem tão delicado como os mocinhos dos filmes, arrancou sua camisa. Naquele momento eu tinha certeza que eu ia dar pra ele a honra da minha primeira vez. E eu gostava da idéia. Nunca nenhum tinha me tocado de forma tão quente, com tanto desejo. Exploramos cada centímetro do corpo um do outro. Beijos, mordidas, toques, lambidas, usamos todos os artifícios imagináveis para termos prazer antes de consumar o ato. Então toca meu celular. Sim, o sinal havia voltado. Droga !

Nesse momento ele se levantou, vestiu sua roupa ainda extremamente molhada. Eu só fechei meu sutiã e atendi o telefonema da minha mãe dizendo tudo que eu já imaginava que ela diria e fui aos poucos percebendo que o temporal já havia passado. Prometi para ela que em 15 minutos estaria em casa e ao desligar o telefone ele já não estava ali. Terminei de me vestir e corri para a rua, não o encontrei mais. Fui então para casa encontrar com uma mãe desesperada. Não dei bola pra o surto dela, era apenas mais um. Fugi logo para o meu quarto com a desculpa de tirar a roupa molhada para não ficar doente. E no banho só conseguia lembrar dos momentos que tive com aquele que não sei nem o nome e que jamais voltarei a ver.

(continua...)

Lélih Haubert

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